Carta aberta ao General-de-Exército Aposentado Gilberto Barbosa de Figueiredo

Prezado Senhor:

Já faz tempo que acompanho as mais diversas declaracões que faz por meio do site do clube militar. Costumo ler com atenção a quase todas e muito me impressiona a forma odiosa com que se refere a muitos aspectos que preocupam a nação além da total ingenuidade com relacão a assuntos delicados como a imigracão na Europa.

No texto "Discutindo a Esquerda" o senhor parece optar pela publicação de um texto "ouvido em algum lugar" que é a mais pura demonstracão de ignorância com relacão ao que acontece no velho mundo.

Em meus míseros 27 anos, conheci praticamente todos aqueles países europeus. E o que descobri é que esta história contada por muitos e repetida nefastamente neste texto, não passa de um dramalhão latino de qualidade inferior a um enfadonho fado português.

O que na verdade existe é a chamada industria do refugiado. A Europa recebeu recentemente um enorme número de refugiados de guerra e me cansei de ouvir discussões acalouradas por lá sobre qual era o limite a cerca disto tudo. Mal sabem estas pessoas que os governos europeus não são estúpidos nem inocentes e apenas aliviam o sofrimento dos que se provam úteis à sociedade.

Quando estudava norueguês, dividia a sala de aula com outros 14 colegas de 12 países diferentes e bastou uma rápida conversa para perceber do que se tratava. TODOS eram engenheiros ou médicos, justamente o que a Noruega mais precisava naquele momento. Um médico etíope que lá chegou com toda família me disse com o coracão partido que muitos de seus amigos não tiveram o mesmo fim simplesmente por terem empregos ou formacões mais "humildes". E isto eu ví por toda a Europa!

Costumam acusar os governos de esquerda na Europa de serem complacentes demais com a imigracão. Que piada ridícula! Na verdade, o que eles fazem é importar essa mão de obra especializada, tão necessária em um continente onde as desigualdades sociais diminuiram tanto a ponto de um cidadão local se perguntar se vale mesmo a pena passar ANOS na universidade e se formar como médico para ganhar um pouquinho mais que um motorista de ônibus ou maquinista! Com o tempo, falta mão de obra especializada e os governos são obrigados a apelarem para esta prática nojenta de retirar de países em guerra, somente os que se provam úteis.

E o pior é que se procuro explicar o que realmente acontece, me acusam de ser um esquerdista. Logo eu, filho de militar da reserva e irmão de oficial da reserva além de filiado a um partido de "direita", entre aspas mesmo já aqui no Brasil isto tudo parece ser questão de conveniência.

Me causa enorme espanto ler textos no site do clube militar que fazem apologia direta à ditadura que foi e sempre vai ser a maior vergonha da história deste país. E como se não bastasse, às vezes sou obrigado a ouvir a turma do "tem que quebrar" fazendo apologia à fantasiosa ditadura do proletário! Santo deus, será que não aprendem nunca???

O senhor diz: "Assim, a suposta reparação de injustiças passadas se está inserindo na onda de espertezas e de corrupção que assola o Brasil, que desmoraliza a Nação...". Como assim suposta reparação General? O senhor já sentou em uma cadeira de dragão? Já meteu a língua em um dobrador de tensão? Conhece a pimentinha? O senhor já passou algumas horas na companhia da Miriam? Por favor, não insulte minha inteligência!

Aos moderados (que costumam ser minoria) parece ser reservada a tarefa de conter o instinto aventureiro de pessoas como o senhor e os radicais de esquerda, cada qual de um lado extremo do pêndulo, insistindo serem os donos absolutos da verdade. E quando a loucura toma corpo (vide Hugo Chavez), tudo o que resta fazer é esperar passar a tempestade para recolher os corpos e reconstruir o que foi devastado pela insistência em algo que já nasce condenado a fracassar.

Pudera eu construir um exército de moderados e protejer o Estado de todas estas formas de delírio que de tempo em tempo retornam como praga devastando o que outrora se edificou com dificuldade. É apenas um sonho mas, me permita sonhar General já que neste exato minuto, é o que me resta. Mas se o senhor concorda com o texto "ouvido em algum lugar" com referências a imigracão na Europa então devo dizer que conseguiu me tirar até o sono pois mesmo na reserva, é um General e quando os que se ocupam da defesa do meu país optam por enxergar um problema seguindo caprichos ideológicos ao invés de observá-los com pragmatismo, então não me resta mais nada senão esperar o pior pensando no melhor.

Frederico Felix

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