Um livro, uma ideologia... a guerra


Há pouco tempo, vivemos uma situação de tensão no sub continente diante do interminável combate entre o governo colombiano e as FARC que desta vez, como já se suspeitava, vazou para outros países provocando uma situação de quase beligerância entre eles. Mais que falar sobre o episódio em si, acredito ser pertinente refletir sobre o que leva aquelas pessoas a um calvário sem fim.

A ideologia, dependendo do conceito aplicado, pode ser quase tão antiga quanto a própria sociedade e em um lugar com tantas diferenças sociais como o continente sul americano, nada mais normal que a discussão sobre lutas de classes iniciada pelo velho Marx. O problema não reside na discussão, mas no tamanho do radicalismo a ela associada.

No meio de uma quase guerra, países debatiam em um encontro na República Dominicana se as Farc deveriam ser tratadas como uma organização terrorista ou um grupo armado com fins político-sociais. Ora, se seqüestrar, matar, causar sofrimento, dor, apreensão e medo não é terrorismo, alguém, por favor, me diga o que é!!!

Não entendo e jamais entenderei o que motiva pessoas a pegarem em armas contra seus próprios compatriotas. Dizem que é em nome de uma causa maior, do bem supremo do povo. Que causa maior é esta que esfacela um país há mais de 40 anos?

Os comunistas e socialistas fazem críticas pertinentes ao capitalismo e não há como se esquivar disto, mas a partir dai pegar em armas para a solução de todos os problemas sociais de meu país ou qualquer outro não passa de substituir um pesadelo por outro de mesmo tamanho. A história nos mostra isto.

Hoje ouvi o relato de um professor, de um radicalismo que dá medo a qualquer pessoa, dizendo orgulhoso que educou os filhos dentro da doutrina do socialismo. Defendia a luta das Farc e classificou o governo colombiano de fascista. Como me entristece saber que depois de tantas mortes, torturas e guerras promovidas por ditaduras tanto de esquerda quanto de direita, ainda existam pessoas que não compreendam a via do diálogo como a única realmente sustentável.

Ah sim, eu sei! Vão dizer que não é possível dialogar com o capitalismo, que ele é vil e cruel, tra-la-la. Queria saber o que Gandhi diria se ouvisse isto afinal de contas, derrotou o poder imperial britânico sem disparar um só tiro.

Mas os tempos são outros e sou liberal. Acredito em mudanças graduais e lentas, promovidas mediante sustentação e legitimidade e não a simples tomada do poder pela via da revolução.

A vida é feita de equilíbrio e tem enorme capacidade de retaliação quando esta máxima é quebrada. Tanto no tocante ao indivíduo, que pode eventualmente comer muito e acabar doente quanto um grupo social que exagera nas ações buscando obstinadamente um objetivo e acabam, por fim, vítimas dele mesmo.

Faz pouco tempo, discuti isto com um bom amigo. Ele chamou a atenção para o fato de que somos pessoas muito diferentes e mesmo assim nos entendemos muito bem. Claro, disse eu, afinal de contas, não pegamos em armas por um mundo melhor simplesmente porque alguém escreveu isto em um livro. Somos capazes de coisas melhores!

Frederico Felix

Um comentário:

Moreno disse...

Bom primo, o seu texto tá ótimo. Após mostramos com um simples ato de reciprocidade, sem violência ou hipocrisia, à Europa que devemos ser respeitados,acredito cada vez mais no que escreveu. As bravatas de um ditador maluco e louco pelo poder não deveriam caber no mundo de hoje, como algumas guerras insanas que ocorrem por motivos escusos, como o que fazem as FARC hoje. O diálogo é e sempre foi a melhor maneira de se chegar a um entendimento.Se chegarmos a um período que isso for completamente posto de lado, então o mundo já não precisa mais de nós. A vitória com base na violência só dura enquanto o subjugado não tem poder para fazer o mesmo com seu algoz. Ah, só uma coisa, é entristeCe! Um grande abraço!