Duas Taras

Diante da histeria que tomou conta de nosso país recentemente - o que só vem a confirmar minha teoria sobre a debilidade de nosso povo - não posso me furtar em dizer uma coisa ou outra sobre certa menina Isabella a qual nunca conheci, mas que nem depois de morta, me dá sossego.

Antes que me acusem de ser indiferente e frio diante do sofrimento de uma família, permitam-me esclarecer alguns pontos:

1. Não costumo arrancar os poucos cabelos que me restam diante de problemas que são meus e diga lá dos outros então! O coração não deveria ter jurisprudência na solução de questões da vida cotidiana já que fomos presenteados com uma dose razoável de ratione.

2. Por mais corrupta e estúpida que seja a nossa polícia, ainda prefiro acreditar em seu trabalho investigativo, pois do contrário só me resta crer em Superman, Robin Hood... E eu ainda não cheguei a este ponto e nem quero.

3. Usando de pragmatismo, alguém me diga o que nós brasileiros temos a ganhar com esta execração pública de uma família até então desconhecida? Algum sentimentalista de plantão se candidata a responder?

Poderia continuar com a exposição de uma série de pontos que considero relevantes à questão, mas por hora estes três se fazem suficientes para mostrar como adoramos fazer tudo às avessas neste país.

No caso desta menina, temos uma família de classe média da grande metrópole paulista e certamente por isto toda esta repercussão. É aquela velha história; se fosse uma criança bem pobre lá do sertão nordestino que fosse espancada até a morte pelo pai ou a mãe, tudo não passaria de algo “normal”.

Mas não quero abordar esta questão sob a ótica do socialista “barba por fazer” que insiste nessa chatice de classes mais e menos favorecidas o tempo todo. Prefiro olhar sob o prisma da leseira do povo brasileiro que de tão gigantesca, permite que um seleto grupo de pessoas manipule não só a opinião, mas os sentimentos e os valores das pessoas.

Ora, já que neste caso se manipula praticamente tudo o que temos e somos enquanto indivíduos, estamos, então, diante de nova novela das oito. Uma versão grosseira (como se a outra não fosse) e genérica que daremos o nome de Duas Taras.

Duas porque representa o grotesco e o sádico. Infelizmente esta criança preencheu todos os requisitos para participar deste elenco de escárnio humano na figura dos meios de comunicação, mas não como protagonista e sim como vítima de um gosto doentio pela desgraça alheia que ultrapassa até os interesses financeiros.

Frederico Felix

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostaria de não postar sobre "o assunto mais chato das últimas semanas" mas não me segurei. Como podem ver eu o estou fazendo.
Foi assustador acompanhar o andamento do caso pela tevê. Cada detalhe foi minuciosamente explorado e foi formada toda uma opinião pública de revolta e dor. Embora a única dor que eu estava sentindo era dor de cabeça, de tanto ouvir falar do caso Nardoni, alguns seres superiores sentiram esse pesar pela vítima. Enquanto isso a "indústria da desgraça alheia" arrecada não sei quantos milhões de reais em cima das imagens, dos depoimentos, etc.Dainte de todo esse drama só posso concordar com aquele velho dizer: "A desgraça de uns é a felicidade de outros".

Marcelo Alcântara Queiroz
leioimeio@yahoo.com.br